Cavalos, Cores e o Pé de Capim

Conheci Dimas em meados da década de 80 do século passado, Dimas, parafraseando Evandro Mesquita era um Caminhoneiro conhecido da pequena e pacata cidade de Pesqueira em Pernambuco de onde vieram vários profissionais do volante, no embalo dos bons tempos da Cicanorte e das imensas plantações de tomate em nossa região.

 

Junto com ele, vários outros se aventuraram por estas bandas, Rinaldo, Astrogildo Pereira, Audálio, Pinto (filho de Dimas) Arlindão entre tantos outros, Dimas tinha uma característica peculiar, chamava a todos de “Cavalo”, não era “Burro” ou Égua moleque, como alguns ainda falam por estas paragens, em qualquer discussão lá estava o velho Dimas; Bonito pra tú “Cavalo”, fala “Cavalo”, Bom Dia “Cavalo”, Boa Tarde, Boa Noite “Cavalo”.

cavalo

Como todo homem que pensava no futuro, Dimas pagava seu INSS como autônomo, que ele só chamava de “O Pé de Capim”, em virtude do símbolo da nossa previdência pública que em sua visão parecia com um pé de capim, vai pra onde Dimas? Vou pagar o Pé de Capim “Cavalo”, ou quando mudava a pergunta, já pagou o pé de capim Dimas? Já “Cavalo”, a contribuição era visando uma aposentadoria pelo valor máximo que a lei permitia, hoje em dia exatamente, R$ 5.645,81, naqueles tempos duros de inflação altíssima e moeda supervalorizada, os milhões que se falava, acalentava o sonho de tranquilidade do velho Dimas.

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Pé de Capim

E vem a eleição de 1989, um já recém aposentado Dimas optou por votar no candidato “Lá ele” e papo vai papo vem, Dimas saltava com seu bordão, eu vou votar é no colorido seu “Cavalo”, não tinha quem o convencesse do contrário, vou lá votar em pobre, em pobre vota tu “Cavalo”, além disso tudo ainda tinha o pé de capim, Dimas ainda fazia umas viagens, pra não perder o costume, mas, quando os amigos sentiam sua falta, na volta já interrogavam, tava aonde Dimas? Fui buscar o pé de capim “Cavalo”, às vezes nem perguntavam, ele mesmo anunciava, vou ali buscar o pé de capim bocado de “Cavalo” e entre cavalos e o pé de capim vivia o velho Dimas.

 

Vem 1990 e entre as medidas tomadas por “Lá ele”, foi mexer nos limites dos benefícios da previdência, e Dimas que recebia uma aposentadoria relativamente interessante se viu de um mês para o outro recebendo pouco mais da metade do que recebia, reclamou, esperneou, mais não teve jeito, teve que se contentar com o que o colorido permitiu que se pagasse, cabisbaixo, passeava Dimas pelas ruas de Pesqueira e os amigos não perdiam a vez, cadê o pé de capim “Cavalo”, já foi buscar o pé de capim “Cavalo”, que dia vai buscar o pé de capim “Cavalo”.

 

Envergonhado, Dimas se trancou em casa, saía pouco ou quase não saía, os amigos então ligavam pra sua casa e ao atender o telefone com o velho alô, sempre ouvia; Cadê o pé de capim “Cavalo” ou já foi buscar o pé de capim “Cavalo”, deixou de atender o telefone, mas a raça ruim não deixou de ligar, Dona Maria, sua esposa era quem atendia (coitada de D. Maria) alô, D. Maria Dimas taí? Tá, espera aí que vou chamar, alô, cadê o pé de capim “Cavalo”, com o tempo D. Maria atendia mais não queria chamá-lo… é coisa séria D. Maria chame ele aí, não chamo mais, ele não vem atender; mais sou eu D. Maria, a coitada ia e ao alô de Dimas se seguia um cadê o pé de capim “CAVALO”.

 

O porque destas linhas é que quase 30 anos depois, caímos no conto de outro “Lá Ele”, o futuro que se apresenta é obscuro, o ataque às poucas conquistas que ainda conseguimos defender com muita luta, virá com mais força, já tem muitos Dimas arrependidos, cabisbaixos, envergonhados, logo se trancarão em casa e jogarão fora os celulares, vencidos pelo próprio obscurantismo e incapacidade de fazer uma simples análise de vida, pobres “CAVALOS”